Inverno Cultural 2012 |
O Campus Centro-Oeste Dona Lindu, da Universidade Federal de São João
del-Rei (UFSJ), sediou nesta sexta, 11 de abril, cerimônia de lançamento
da 27ª edição de um dos maiores festivais de arte e cultura do país, o
Inverno Cultural. O evento está agendado para as 11h, no auditório do
campus, e contará com a presença da reitora da UFSJ, professora Valéria
Kemp, do pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários, professor Paulo
Caetano, coordenador geral do Festival, e do prefeito de Divinópolis,
Vladmir Azavedo, além de autoridades e parceiros locais. Na ocasião a
reitora e o prefeito assinam termo de parceria para realização, pela
segunda vez, do Inverno Cultural na cidade.
A participação de Divinópolis nesta edição do Inverno Cultural é
resultado das diretrizes municipais de fomento à cultura, cujo objetivo é
fortalecer a projeção do município no circuito estadual de festivais,
um dos mais fecundos do país. Há 27 anos, o Inverno Cultural leva arte,
cidadania e cultura, em todas as suas modalidades, a todas as cidades e
regiões abrangidas pela UFSJ, que desenvolve um sólido trabalho
extensionista desde sua fundação.
Todas as atividades previstas nas sete grandes áreas do festival –
arte cênicas, música, literatura, artes plásticas, arte-educação, artes
visuais e especiais – são realizadas em centros culturais, praças e
demais espaços públicos das quatro cidades onde a UFSJ mantém seus
campi. Todas gratuitas.
Tema
A edição 2014 do Inverno Cultural da UFSJ acontece no período de 19
de julho a 2 de agosto, quando suas atividades estarão voltadas para o
eixo temático FUTEBOL, como fenômeno de massa, de aglutinação
sociológica, de matéria de memória e de espetáculo midiático,
concretizado na Copa do Mundo Fifa-Brasil.
Para o pró-reitor Paulo Caetano, a temática transcende a efeméride
Copa do Mundo, para se debruçar sobre “diferentes abordagens e
posicionamentos relevantes para as culturas contemporâneas, abrangendo o
campo das artes, música, comunicação, ciências sociais, esportes,
economia, políticas identitárias e das novas sociabilidades.”
A expectativa dos organizadores é trazer o esporte inventando pelos
bretões, visceralmente transformado em arte nas terras tupiniquins, para
a arena acadêmica, num esforço de integração de paixões semelhante ao
empreendido pelo neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, que abre
suas concorridas conferências ao redor do mundo narrando os lances
épicos que singularizam a história do futebol no Brasil, e para quem
Pelé foi “disparado o melhor jogador de futebol de todos os tempos, pelo
menos deste lado da Via Láctea.”
Opinião também compartilhada pelo professor José Miguel Wisnik que,
em seu livro Veneno remédio: o futebol e o Brasil, credita sua
“incurável tendência a ver sentido em tudo” ao fato de ter sido exposto,
em seus anos de formação, à força e à beleza do futebol da Baixada
Santista dos anos 50 e 60, como se aquilo fosse normal. A memória de
Wisnik se pauta pela memória daquele jogo lúdico: “Num dia qualquer de
1957, vi numa gazeta esportiva a foto de um garoto que vinha se
destacando no Santos. No ano seguinte, esse garoto se chamava Pelé e
fazia parte da seleção brasileira, e a seleção brasileira, num domingo
infinito que parece a própria final dos tempos, era campeã do mundo.
Quando Pelé voltou para a Vila Belmiro – o pequeno estádio do Santos –,
já se podia ouvir pelo rádio, no momento em que a bola chegava a ele, um
alarido diferente na plateia, um clamor excitado e ansioso, uma marca
de sagração.”
E o que dizer das crônicas imortais de Nelson Rodrigues, que ainda
hoje inspiram gerações e gerações de cronistas esportivos a buscar
definições para o inominável? É deste torcedor fanático do Fluminense a
pérola: “A mais sórdida pelada é de uma complexidade shakespeariana.”
Como se bate um pênalti
Foi a lição que o craque Heleno de Freitas deixou nos gramados do
Olympic Clube de Barbacena, onde se exilara para tratamento de terríveis
crises nervosas. O ano era o de 1959, e a terapia da fulgurante estrela
do Botafogo incluía sua presença nos treinos do time que disputava o
campeonato regional da liga profissional. Heleno assistia a tudo
impassível, até que a cera na cobrança de um pênalti sacudiu aquela
letargia. O repórter Toninho Stefani registrou a cena:
“Heleno, rápido e sorrateiro, levantou-se, passou pelo portão do
alambrado, entrou em campo esbravejando. Caminhou em direção à área onde
havia sido cobrado o pênalti dizendo: “Vou ensinar como se bate um
pênalti!” Enquanto todos o olhavam surpresos e incrédulos, Heleno
apanhou a bola e foi colocá-la na marca do pênalti. A surpresa cortou
qualquer tipo de reação dos enfermeiros e dos presentes. Heleno mandou
que o goleiro tomasse posição. O silêncio caiu pesado sobre o campo.
Afastou-se mais ou menos dois metros da bola. Eu olhava maravilhado. De
repente, não era o Heleno gordo, desengonçado e sedado que estava ali em
pé para bater o pênalti... era o Heleno garra, amor à camisa, cabelos
englostorados e elegantemente uniformizado. Parecia cingido por tênue
luz azulada. No peito uma Estrela Solitária completava o ornamento de
seu corpo. Heleno correu com vagar em direção à bola. Chutou. O goleiro
só olhou. A bola correu mansa e suavemente morreu no fundo da rede.
Senti o silêncio gritar extasiado. Somente Heleno se movia, caminhando de volta em direção aos enfermeiros e a seu mundo real. Não sei quem começou a bater palmas, mas todos acompanharam. E Heleno, com passos firmes, antes trôpegos, passou por mim, tão perto e tão rente, que eu vi as lágrimas que brotavam em seus olhos. Muitos outros olhos marejaram-se de furtivas lágrimas, inclusive os meus. Creio que até os deuses do futebol tenham se calado e chorado, arrependidos de terem tirado dos campos aquele outro deus dos estádios. Foram as últimas palmas que Heleno recebeu em sua vida. Morreria quinze dias depois, no hospital. Na hora de sua morte, Deus, o verdadeiro, era o único que segurava suas mãos.”
Senti o silêncio gritar extasiado. Somente Heleno se movia, caminhando de volta em direção aos enfermeiros e a seu mundo real. Não sei quem começou a bater palmas, mas todos acompanharam. E Heleno, com passos firmes, antes trôpegos, passou por mim, tão perto e tão rente, que eu vi as lágrimas que brotavam em seus olhos. Muitos outros olhos marejaram-se de furtivas lágrimas, inclusive os meus. Creio que até os deuses do futebol tenham se calado e chorado, arrependidos de terem tirado dos campos aquele outro deus dos estádios. Foram as últimas palmas que Heleno recebeu em sua vida. Morreria quinze dias depois, no hospital. Na hora de sua morte, Deus, o verdadeiro, era o único que segurava suas mãos.”
Como se analisa uma paixão? Como se vive catarse mais intensa? Como
se normatiza a gratuidade descompromissada de uma partida de futebol
“num mundo ostensiva, extensiva e intensivamente capitalizado”, como se
indaga Wisnik? Que o 27º Inverno Cultural da UFSJ nos guie pelos
gramados dessa cultura que nos define.
Mais informações: www.invernocultural.com.br
(Fonte: Assessoria de Comunicação UFSJ Campus Santo Antônio)
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