sábado, 12 de janeiro de 2013

Santa Morena

Rafael Dias Belo - Foto: Acervo Santa Morena
O músico Rafael Dias Belo, natural da mineira São João del-Rei, concluiu Licenciatura em Música e habilitação em violino pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Com uma veia artística admirável, Belo foi mentor de apresentações musicais que marcaram a contemporaneidade sanjoanense.

Rafael, quando começou sua paixão pela música?
Não recordo de um momento específico, minhas primeiras lembranças já envolvem música. Toquei bateria e violão ‘de ouvido’ até que aos 15 anos, quando voltei de Belo Horizonte pra São João, ingressei no Conservatório e por curiosidade me inscrevi em violino. Ali eu comecei a estudar teoria e o instrumento, conheci as orquestras, toquei percussão, fiz amigos de bandas e a paixão pela música cresceu e ficou!

Porque escolheu o Curso de Música da UFSJ?
Foi inevitável. Até cogitei o curso de Psicologia, mas mudei de idéia aos 45 do segundo tempo, ao voltar do meu primeiro festival de música, a "Semana de Música de Ouro Branco". A decisão demorou porque o terrorismo que se faz sobre a vida do artista é grande, principalmente para o vestibulando de 17 anos. Mas a escolha por música já estava feita inconscientemente há muito tempo. Escolher a UFSJ deu-se pela chance maior de ser escolhido, já que o curso era novo e eu ainda iniciante. E também por morar em São João e ter família lá.

Fale um pouco sobre sua participação em grupos musicais na cidade de São João del-Rei.
Focando a sinfônica de São João del-Rei, ingressei na Lira Sanjoanense para aprender a tocar em orquestra. Anos depois, já na Sinfônica, ingressei na orquestra Ribeiro Bastos, a qual até hoje visito. Toquei fagote e percussão na banda sinfônica do Conservatório e toquei bateria em bandas da cidade. Fiz parte dos grupos de câmara e orquestras da UFSJ, além de grupos novos da região, como Capela del-Rei, Orquestra Pró Arte Jovem (OPA), música para eventos, etc.

Como nasceu o Santa Morena e qual é o estilo musical?
O Santa Morena nasceu aos poucos. O início deu-se na brincadeira. César, Max e eu sempre fomos amigos e brincávamos de criar músicas, tocar juntos. Os dois (César e Max) foram chamados pra tocar em um almoço um dia e criaram alguns arranjos. No concerto de formatura do César os dois me pediram pra tocar Cajon na música ‘Eleanor Rigby’ dos Beatles, que eles tinham arranjado. O resultado musical ficou marcado em todos. Quando o César voltou da Suécia, em meados de 2011, falávamos em montar um grupo, pra fazer aquilo de novo. Chamei o César pra tocar comigo a música ‘Santa Morena’ do jacob do Bandolim no meu concerto de formatura. Lá também esteve o André Mendes tocando percussão. O embrião  estava gerado. 

Santa Morena no "show da virada", em Tiradentes (MG)

Um dia o Max marcou uma data para tocarmos em um bar da cidade (Calêndula). Tínhamos uma semana pra montar o repertório de uma hora e meia e tínhamos apenas uma música pronta e nenhum nome para o grupo. Foi assim, corrido, que surgiu o show. O resultado do dia foi muito além da expectativa e fomos convidados pra voltar na outra semana. A partir de então ficamos ‘Santa Morena trio’, ainda sem o André na percussão, mas já com o nome em homenagem à música do Jacob do Bandolim.


Em Janeiro de 2012 pensamos em chamar o André, que já era amigo meu de longas datas, para montar um show. Marcamos uma noite no ‘Aluarte’, bar de Tiradentes, durante a ‘Mostra de cinema’. A moçada gostou muito do trabalho, enchemos a casa e nos convidaram para fazer os finais de semana que se seguiram. O ‘Santa Morena trio’ agora transformava-se em quarteto, passando a chamar apenas ‘Santa Morena’. Tentamos levar nosso Showcerto (Show com concerto, como costumamos brincar) para a programação do Inverno Cultural da UFSJ, mas não fomos aceitos. Por conta própria organizamos um concerto de estréia no Teatro do Conservatório de São João del-Rei em Maio de 2012  e mais uma vez fomos surpreendidos pela resposta em quantidade e calor do público. Dias depois fomos convidados a nos apresentar no Inverno Cultural. A partir de então ficou sedimentada a idéia e o grupo ‘Santa Morena’ se encontrou.


Da esquerda para a direita: Rafael Dias (violino), Max Sales (violões e viola caipira), André Mendes (percussão e efeitos) e César Diniz (flautas) - Foto: Acervo Santa Morena


Quantos músicos fazem parte da banda?
São quatro integrantes: César Diniz (Flautas), Max Sales (Violões e viola caipira), André Mendes (Percussão e efeitos), Dias (violino).


O Santa Morena é um excelente projeto?
Sim. Porque funciona como pesquisa, musicalização do grande público, laboratório de testes para nós músicos e principalmente encontro pessoal e diversão para nós como amigos.

Quais as principais dificuldades encontradas na profissão?
Dinheiro e falta de profissionalismo. A pouca valorização do trabalho do artista independente no Brasil está nas vistas. É preciso muito estudo, investimento financeiro, finais de semana trancados em quartos, ônibus, albergues... para poder crescer como músico. É preciso abrir mão de muita coisa importante pra conseguir realizar um trabalho de qualidade (não nos juntamos horas antes do show, são dias e dias). Daí você chega com seu trabalho em uma bandeja e percebe que tem de esperar horas pelo técnico de som e "lutar com ele", andar atrás de uma água, varrer o chão (é sério isso!), tomar banho correndo e ainda fazer uma apresentação com energia e simpatia. Se não houvesse amor, não haveria música. Essa falta de profissionalismo, falta de vontade de fazer seu trabalho bem feito atrapalha e muito o artista, porque ele depende muito dos outros pra mostrar o seu próprio trabalho.

Para conseguir espaço para tocar, gravar é preciso ter um bom agente, um produtor, empresário e esses precisam ter influências. Imagina como é difícil pra nós que somos independentes e não temos ninguém, pode-se dizer impossível. Mas o Santa Morena tem esperança no trabalho de qualidade, que pode abrir portas além mar. Somos um grupo novo, mas com visão do que podemos ser.
Santa Morena - Foto: Juninho Belo



Para contratar o Santa Morena e mais informações:
(32) 9118-9092 / (32) 3372-6768 - falar com César.
  
 

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Febre: vilã ou benfeitora?

O Homeopata, doutor Eduardo

A FEBRE DEVE SER MEDICADA?

Publicação do periódico Pediatrics, jornal oficial da American Academy of Pediatrics (AAP), em fevereiro de 2011: “Fever and antipyretic use in children”, suscitou o ressurgimento de uma antiga discussão no meio médico: quando e como medicar o quadro febril agudo em crianças.

Historicamente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda, desde 1993, o tratamento medicamentoso para crianças de 2 meses a 5 anos, se houver desconforto e quando a temperatura axilar estiver acima de 38,2º. O texto da OMS finaliza concluindo que pais e trabalhadores da área de saúde deveriam “tratar a criança, e não o termômetro” (p. 13). Em agosto de 2004, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) editou uma série de boletins sobre o tema “Uso racional de medicamentos”. O número 9, com o título: “Febre: mitos que determinam condutas”, concluiu também que “febre é sintoma, não doença, só precisando ser controlada quando compromete o estado geral do paciente”. Em 2009, artigo publicado no periódico Pediatrics in Review, também vinculado à AAP, com o título “Acute fever”, descreveu que “a aparência clínica, mais que o valor da febre, é um melhor preditor da severidade da doença”.
             
O artigo de 2011 da revista Pediatrics não traz novas abordagens para o quadro febril, mas ratifica as condutas preconizadas anteriormente, baseadas em evidências científicas. Obteve ampla divulgação após reportagem na Revista Veja (edição de 28/02/11): “Febre de crianças exige cabeça fria dos pais”, inclusive culminando com outro artigo no periódico nacional Residência Pediátrica, publicação oficial da Sociedade Brasileira de Pediatria, edição maio/agosto de 2011: “Uso de antitérmicos: quando, como e por quê”. Esse artigo finaliza com uma síntese, adaptada de artigos anteriores (já citados), enumerando o “Decálogo do combate à fobia da febre”:
1. Educação sobre febre deve ser feita nas primeiras consultas de puericultura.
2. Febre é a resposta normal do corpo à infecção.
3. Febre não é doença, mas um sintoma.
4. A medida da febre não tem que ser e não pode ser exata.
5. A aparência clínica é mais importante do que o termômetro.
6. A expressão “manejo da febre” deve ser usada em vez de “controle da febre”.
7. Os pais têm que se preocupar com o conforto da criança, não com a sua temperatura.
8. O uso de antipirético deve ser reservado para crianças com desconforto e temperatura acima de 38°C.
9. Não se devem alternar drogas antipiréticas, pois os riscos são maiores do que os potenciais benefícios.
10. A febre não vai e não deve ir embora até que a infecção se resolva.
             
O tratamento da criança febril deve priorizar o conforto e o bem estar do paciente, com especial atenção à hidratação, além de orientar os pais em relação aos sinais de gravidade da doença. A chance de ocorrência de uma primeira convulsão febril tem como principal fator a presença de história familiar de convulsão febril, além de acontecer mais comumente no primeiro dia de febre e na grande maioria dos casos as crises são únicas. Estima-se que 2% a 5% das crianças menores de cinco anos de idade apresentarão pelo menos uma crise convulsiva em vigência de febre. Estudos indicam que a febre de breve duração e pouca intensidade e a idade precoce da primeira crise se correlacionam com o risco de recidivas de convulsões febris, além de ocorrer com maior frequência nas crianças com idade entre seis meses e três anos. É necessário difundir a informação que o tratamento da febre com uso de antitérmicos não previne a convulsão febril, pois não altera a evolução natural dessa manifestação que apresenta baixa morbidade e pouca recorrência.
             
Os artigos citados evidenciam a importância de ter consciência que nem todo quadro febril agudo na criança necessita ser combatido com medicamentos; existem critérios e parâmetros a seguir. 

Eduardo L. M. Martins - médico Homeopata
O artigo acima foi publicado no jornal da Associação Médica de São João del-Rei, edição Julho 2012