sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Febre: vilã ou benfeitora?

O Homeopata, doutor Eduardo

A FEBRE DEVE SER MEDICADA?

Publicação do periódico Pediatrics, jornal oficial da American Academy of Pediatrics (AAP), em fevereiro de 2011: “Fever and antipyretic use in children”, suscitou o ressurgimento de uma antiga discussão no meio médico: quando e como medicar o quadro febril agudo em crianças.

Historicamente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda, desde 1993, o tratamento medicamentoso para crianças de 2 meses a 5 anos, se houver desconforto e quando a temperatura axilar estiver acima de 38,2º. O texto da OMS finaliza concluindo que pais e trabalhadores da área de saúde deveriam “tratar a criança, e não o termômetro” (p. 13). Em agosto de 2004, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) editou uma série de boletins sobre o tema “Uso racional de medicamentos”. O número 9, com o título: “Febre: mitos que determinam condutas”, concluiu também que “febre é sintoma, não doença, só precisando ser controlada quando compromete o estado geral do paciente”. Em 2009, artigo publicado no periódico Pediatrics in Review, também vinculado à AAP, com o título “Acute fever”, descreveu que “a aparência clínica, mais que o valor da febre, é um melhor preditor da severidade da doença”.
             
O artigo de 2011 da revista Pediatrics não traz novas abordagens para o quadro febril, mas ratifica as condutas preconizadas anteriormente, baseadas em evidências científicas. Obteve ampla divulgação após reportagem na Revista Veja (edição de 28/02/11): “Febre de crianças exige cabeça fria dos pais”, inclusive culminando com outro artigo no periódico nacional Residência Pediátrica, publicação oficial da Sociedade Brasileira de Pediatria, edição maio/agosto de 2011: “Uso de antitérmicos: quando, como e por quê”. Esse artigo finaliza com uma síntese, adaptada de artigos anteriores (já citados), enumerando o “Decálogo do combate à fobia da febre”:
1. Educação sobre febre deve ser feita nas primeiras consultas de puericultura.
2. Febre é a resposta normal do corpo à infecção.
3. Febre não é doença, mas um sintoma.
4. A medida da febre não tem que ser e não pode ser exata.
5. A aparência clínica é mais importante do que o termômetro.
6. A expressão “manejo da febre” deve ser usada em vez de “controle da febre”.
7. Os pais têm que se preocupar com o conforto da criança, não com a sua temperatura.
8. O uso de antipirético deve ser reservado para crianças com desconforto e temperatura acima de 38°C.
9. Não se devem alternar drogas antipiréticas, pois os riscos são maiores do que os potenciais benefícios.
10. A febre não vai e não deve ir embora até que a infecção se resolva.
             
O tratamento da criança febril deve priorizar o conforto e o bem estar do paciente, com especial atenção à hidratação, além de orientar os pais em relação aos sinais de gravidade da doença. A chance de ocorrência de uma primeira convulsão febril tem como principal fator a presença de história familiar de convulsão febril, além de acontecer mais comumente no primeiro dia de febre e na grande maioria dos casos as crises são únicas. Estima-se que 2% a 5% das crianças menores de cinco anos de idade apresentarão pelo menos uma crise convulsiva em vigência de febre. Estudos indicam que a febre de breve duração e pouca intensidade e a idade precoce da primeira crise se correlacionam com o risco de recidivas de convulsões febris, além de ocorrer com maior frequência nas crianças com idade entre seis meses e três anos. É necessário difundir a informação que o tratamento da febre com uso de antitérmicos não previne a convulsão febril, pois não altera a evolução natural dessa manifestação que apresenta baixa morbidade e pouca recorrência.
             
Os artigos citados evidenciam a importância de ter consciência que nem todo quadro febril agudo na criança necessita ser combatido com medicamentos; existem critérios e parâmetros a seguir. 

Eduardo L. M. Martins - médico Homeopata
O artigo acima foi publicado no jornal da Associação Médica de São João del-Rei, edição Julho 2012 

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