terça-feira, 14 de junho de 2011

Igreja do Bonfim

Igreja do Bonfim

Situada no Bairro do Bonfim, a capela possui nave e altar único, bastante modestos.

Além da capela, o bairro e a vida no entorno são relatados pelo historiador, Antônio Gaio Sobrinho, nos propiciando uma viagem no tempo.

Confira...

Notas sobre o Bairro do Bonfim . Antônio Gaio Sobrinho

O morro situado a leste de São João del-Rei, contrastando humildemente com a Serra do Lenheiro a oeste, teve inicialmente o macabro nome de Morro da Forca, em virtude de ter sido ali que, em tempos do absolutismo colonial e imperial, se erguia o patíbulo da forca, muitas vezes usado como destino final da vida de tantos infelizes.
Em 1769, José Garcia de Carvalho, devoto do Senhor do Bonfim e para sua  maior veneração, impetrou do Senado da Câmara terreno para construção de uma capelinha para se celebrar missa. Aos 10 dias de maio do mesmo ano, foi-lhe passado o competente ato de posse, tendo, a partir daí iniciada a construção. Inaugurada a capela, o Morro da Forca começou a ser também conhecido como Morro do Bonfim, e o casario com arruamento foi-se formando. Semelhante fenômeno de povoamento estava também ocorrendo na Vargem do Porto, que se transformou em Matosinhos.
O entorno da capela recebeu ultimamente uma boa remodelação, prejudicada apenas por um cruzeiro luminoso que ali foi posto em 1938, quando do centenário da cidade. No lado oposto, por iniciativa do cônego Almir de Resende Aquino, a idéia da ereção de alto monumento a Nossa Senhora do Pilar,  foi concretizada  em 2 de janeiro de 1967 e benzido no dia 12 de outubro desse mesmo ano.
Pelo Morro da Forca, entrou na cidade, em 1717, o governador da capitania, Dom Pedro de Almeida, conde de Assumar, tendo sido, ali mesmo, recepcionado pelas autoridades e povo da Vila, ao som de uma banda de música, regida pelo maestro Antônio do Carmo. Do que se concluem duas coisas: que era pelo Morro da Forca uma das mais antigas entradas da cidade e que São João del-Rei, de fato, merece o título de Cidade da Música.
O Arraial das Cabeças  situado nas imediações da atual Rua Antônio de Abreu e da Várzea do Faria, que, desde 1777, conserva o nome de Joaquim Faria, deve o seu nome ao fato de na segunda metado do séc. XIX a Câmara Municipal haver escolhido aquele como local de enterramento de animais mortos na cidade. Daí a possibilidade de que algumas ossadas como os crâneos destes animais viessem 'a tona gerando nos moradores o nome Arraial das Cabeças.
Durante a Guerra dos Emboabas, a primitiva capela de Nossa Senhora do Pilar foi incendiada, pelo que uma segunda igreja da mesma denominação foi erguida no Morro da Forca, nas imediações da atual Escola Estadual Inácio Passos. Nessa capela, que permaneceu como matriz até a reedificação da atual  no mesmo local da que fora queimada, se erigiu a Irmandade do Santíssimo Sacramento, em 1711, e se recepcionou com solene Te-Deum o já mencionado Conde de Assumar.
Durante o tempo em que ali esteve em funcionamento a dita igreja matriz, isto é, de 1710 até 1724, a atual Rua da Prata e seu prolongamento pela Rua Ribeiro Bastos se chamou Rua Direita de Baixo, segundo um costume cristão de dar o nome de Rua Direita à principal via pública de acesso à  matriz, como fora antes e seria depois a atual Rua Getúlio Vargas. 
Para se ir ao Bonfim, houve sempre três percursos: a) – a Rua Direita de Baixo, que depois se chamou também  Rua do Morro da Forca e Rua do Bonfim, e que, desde 1913, se chama Ribeiro Bastos; b) – a  Rua da Intendência, que subia pelas atuais Gabriel Passos e João Salustiano; c) – a Rua da Independência, atual José Bastos, que sobe por entre as anteriores, pelo que também se chamou Rua do Meio. No sentido horizontal, destacaram-se dois becos: o Beco dos Pinheiros, atual Rua Mourão Filho e o Beco do Progresso, que, hoje, homenageia o músico e compositor são-joanense do século XVIII, o negro João da Matta.  A  Praça  do  Bonfim  tomou,  em 1938,  o nome  do  médico  e engenheiro   são-joanense, Guilherme Milward, que foi professor da Universidade de Medicina de São Paulo, em cujo salão nobre tem busto de autoria de Tarcila do Amaral. Nessa praça, existe um belo cruzeiro, remanescente daqueles que missionários costumavam plantar em encerramento das famosas missões populares, que  ocasionalmente ocorriam, nas paróquias, até meados  do século XX. Junto dele, em 1º de março de 1903, segundo informação de O Combate, houve festas, com missa pela manhã e leilão de prendas, à tarde, ao som da banda de música do Asilo São Francisco.
A vida escolar do Bairro já está documentada em 1913, quando o padre José Pedro da Costa Guimarães, residente na Rua do Meio, dirigia ali  o Ginásio São Pedro de Alcântara. A Escola Estadual do Bairro, criada em 1965, tem por patrono Inácio Ferreira de Resende Passos, que foi pai de Gabriel de Resende Passos e ex-aluno da primeira Escola João dos Santos, na Prainha.
A inauguração do filtro de água deu-se no dia 19 agosto de 1888, com música da Banda Lyra Sanjoanense e ali se ergueu também a comprida antena da ZYI-7 = Rádio São João del-Rei, inaugurada em 18 de maio de 1947. Em 13 de outubro de 1935, fundava-se a Conferência Vicentina do Bonfim.
Em 1818 visitou São João os sábios alemães Spix e Martius que testemunharam: o morro do Bonfim é muito escarpado e, por isso, extremamente penoso de subir para as bestas cargueiras... De seu cume, goza-se esplêndido panorama de todo o vale do rio, e, logo que se desce pela outra extremidade, descortina-se estendida ao pé da montanha, igualmente nua, do Lenheiro, a Vila de São João del-Rei. Depois, em 1868, foi a vez de Richard Burton acrescentar: mais ao sul, e com uma linda vista, está a modesta capela do Senhor Bom Jesus do Bonfim, tem em frente quatro palmeiras, e o morro que lhe dá acesso é coberto de capim do campo e graminha, ambos amarelos de fome e sede. Por aquele caminho, em 17 de junho de 1842, os revolucionários marcharam, vindo do Elvas, e tiveram a cidade à sua mercê. Um mês depois os deputados provinciais ali se reuniram e aprovaram solenemente o movimento. É aqui que, no dia 7 de setembro, a Sociedade Ypiranga se reúne para festejar o Dia da Independência.
Em 1859, José Antônio Rodrigues já se referira aos mesmos festejos na capela, dizendo que: ultimamente, os patriotas a escolheram  para o festejo da Independência, pelo seu lugar desafrontado: há dois anos que daquela eminência retumbam, no dia 7 de setembro, os instrumentos músicos, e fogos que erguem ao ar anunciam a reunião da Sociedade Ypiranga: a voz do sacerdote entoa o hino sagrado Te-Deum Laudamus.
Quando Dom Pedro II, em 1881, esteve na cidade, subiu à capela do Bonfim, onde exclamou: é verdadeiramente bela, vista daqui, a cidade de São João del-Rei. Tendo também eu feito igual experiência, posso terminar, convidando com o poeta são-joanense Franklin de Magalhães: quereis ver maravilhas sem fim, ide ao Bonfim!

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